A ação predatória das sociedades humanas está prejudicando a sobrevivência dos rios no Interior do Estado
Iguatu Esta é a maior cidade da região Centro-Sul, com quase 100 mil habitantes. Imaginem a produção diária de águas fétidas provenientes de esgotos domésticos, comerciais e de fossas, com gorduras, detergentes, fezes, urinas e restos de alimentos. Tudo isso escorre por canaletas ou por infiltração no subsolo e são despejados diretamente no leito do Rio Jaguaribe, na área urbana. A degradação de um dos mais importantes cursos de água do Ceará é uma evidente falta de políticas públicas voltadas para a preservação do meio ambiente.
A situação vem se agravando a cada ano e faltam ações concretas para reverter o quadro de devastação. A poluição é crescente e constante. Além de Iguatu, o Rio Jaguaribe recebe esgoto de dezenas de cidades, e a destruição de suas matas ciliares avançam em ritmo contínuo. Perenizado por águas de açudes na bacia do Alto Jaguaribe, há milhares de pessoas que vivem da produção agrícola e pecuária cuja fonte é o rio, daí a sua importância e a necessidade de preservação.
Nesta cidade, há dois grandes esgotos que despejam lama diretamente no leito do rio. É uma forte agressão. No fim da década de 1950, em defesa da construção do Açude Orós, o poeta e jornalista Demócrito Rocha comparou o Rio Jaguaribe a "uma artéria aberta, por onde escorre o sangue do Ceará". Certamente, não imaginava o escritor que quatro décadas depois esse curso de água estaria sofrendo forte degradação.
O cantor e compositor Luiz Gonzaga, na música "Xote ecológico", deixou um alerta para todos nós: "Não posso mais respirar, não posso mais nadar/ A terra está morrendo, não dá mais pra plantar". Pode-se acrescentar: "o rio está morrendo e o peixe a poluição comeu/ o verde das matas desapareceu e em vez de água, a lama escorreu".
O chefe do escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Iguatu, Fábio Bandeira, observa que "infelizmente, as áreas de preservação são afetadas e a situação se agrava a cada ano". Bandeira mostra que "os caçambeiros insistem em extrair areia das barreiras do rio, das áreas de preservação permanente, e os donos de terra destroem a mata ciliar para ampliar a área de plantio".
Quem percorre as margens do Jaguaribe, no município de Iguatu, observa com facilidade o avanço da destruição das barreiras. A cada ano, ocorre alargamento do leito e a destruição de áreas agrícolas. Até a década de 1970, o Rio Jaguaribe ainda guardava vegetação nativa, as barreiras eram protegidas pelas matas ciliares e o índice de poluição era reduzido.
"Hoje, o leito do rio está muito largo, as barreiras caíram e a destruição é crescente", diz o agricultor, Francisco Oliveira, da localidade de Cardoso. "É preciso que se faça alguma coisa". A observação de Oliveira reflete a necessidade de ações concretas. Entretanto, faltam trabalho e projetos visando à revitalização do rio.
Além da destruição de suas matas ciliares, o Rio Jaguaribe recebe diariamente despejos de esgotos de dezenas de cidades e centenas de vilas e distritos rurais. Os dejetos seguem para o Açude Orós, o segundo maior do Ceará. "É preciso construir sistemas de saneamento, tratamento de esgoto nos municípios", observa o agrônomo e ambientalista, Paulo Maciel.
Algumas escolas, instituições públicas e Organizações Não-Governamentais (ONGs) realizam campanhas educativas em datas relacionadas ao meio ambiente. A maioria das ações é voltada para os estudantes, mas os verdadeiros e atuais agressores não são conscientizados sobre o problema. Além disso, os projetos são limitados e ficam apenas no plano das discussões sobre a degradação ambiental, sem ação concreta.
Iguatu, pólo regional do Centro-Sul, é uma das grandes poluidoras do Jaguaribe. Os esgotos das residências e do setor comercial são despejados diretamente no leito do rio. O chefe do Ibama também chama a atenção para o Açude Trussu, que é responsável pelo abastecimento da cidade. "As pessoas precisam se conscientizar sobre a gravidade da destruição dos recursos naturais", observa Fábio Bandeira. "É preciso ações concretas para preservar rios, açudes e lagoas".
O secretário de Agricultura de Iguatu, Valdeci Ferreira, lembra que já participou de várias reuniões promovidas pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) e por outras instituições públicas, nas quais o problema da poluição e destruição de matas ciliares e de barreiras naturais do Rio Jaguaribe foram debatidas. "Infelizmente as idéias não saíram do papel, as metas não foram cumpridas. Essa questão demanda grandes projetos e recursos públicos, além de decisão e vontade política em realizar".
Numa faixa de 20km no curso do Rio Jaguaribe, é visível a destruição de suas barreiras naturais, da mata ciliar, do avanço do leito do rio com seus bancos de areia sobre áreas antes agricultáveis. O agricultor José Alves de Macedo, conhecido por Zé da Barra, relembra da época em que o Jaguaribe era cheio de mata, o leito era profundo e mais estreito. "A cada enchente desde 1974 que o rio avança e destrói antigas roças que se transformam em bancos de areia", observa. "Do Barro Alto às Cajazeiras isso está acontecendo a cada ano". A destruição da mata ciliar favorece o alargamento do rio e a invasão de terras agricultáveis.
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Secretaria de Agricultura de Iguatu
(88) 3581.6527
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