Nesta edição de domingo o Jornal Diário do Nordeste destaca através da reportagem do nosso amigo Honório Barbosa a revelação infantil, Luquinha do Acordeon, acompanhe logo abaixo parte da reportagem:
Tímido, calado, ainda com o mundo infantil em seu imaginário, Lucas Pereira da Silva, seis anos, mostra talento ímpar para tocar sanfona. A habilidade com o instrumento vem despertando a atenção da família, de vizinhos e agora de muitos moradores desta cidade. Sozinho, aprende a arte musical e aos poucos vai descobrindo os segredos do instrumento, que ele conduz e segura com jeito, mas às vezes com dificuldade por causa dos braços e mãos ainda pequenos.
Quando está com a sanfona no colo, Lucas deixa a timidez de lado e se transforma num músico infantil que revela jeito para dominar o acordeom. "É um dom que Deus lhe deu", diz o pai, servente de pedreiro Marciano Pereira da Silva. "Aos dois anos de idade, ele começou a brincar com a sanfona e logo percebi que levava jeito". A família e vizinhos garantem que não é exagero. "O curioso é que ele aprende sozinho", ressalta.
A família é moradora do Mutirão, localizado no bairro Vila Neuma, na periferia de Iguatu, às margens do Rio Jaguaribe. É um dos bairros mais pobres. Com muito esforço, mas acreditando sempre no talento do filho, Marciano da Silva comprou uma pequena sanfona e deu de presente, quando o filho tinha dois anos. "Sempre mostrou interesse e vi que gostava muito de música", lembra o pai.
De acordo a família, ao receber o presente, Lucas colocou as alças nos braços e posicionou os dedos nas teclas e ficou como se estivesse tocando. O jeito da criança deixou os pais admirados. "Eu fico impressionada porque ele aprende sozinho. Ele escuta a música, descobre as notas e vai aprendendo", diz a mãe, Edinete da Silva, que não esconde a felicidade com o talento do filho, conta.
A música preferida do jovem instrumentista é "Asa Branca", letra do compositor iguatuense, Humberto Teixeira, em parceria com o mestre sanfoneiro do Nordeste, Luiz Gonzaga. "É a que gosto mais", diz o menino. No repertório do pequeno sanfoneiro, os forrós de Gonzagão ganham destaque, ao lado de outros ritmos como vaneirão e sertanejo. "Sou admirador de Patativa do Assaré e de Luiz Gonzaga", revela.
O líder comunitário da Vila Neuma, Antônio Pereira, mais conhecido por Antônio Baixinho, mostra-se entusiasmado com o talento do jovem músico. "É impressionante o que este menino faz com a sanfona", observa. "É preciso apoiá-lo porque esse menino tem futuro". A esperança na comunidade é de que Lucas tenha uma carreira de sucesso e, como músico, possa ter uma condição de vida melhor. "O pai está desempregado, mas não mede esforços em apoiar o filho", conta Antônio.
Lucas Pereira não se dedica apenas à sanfona. Na escola, esforça-se para aprender a ler. "Quero aprender as duas coisas, ler e tocar", diz. O jovem músico é aluno da 1ª série da Escola de Ensino Fundamental Elze Lima Verde. Até o ano passado, estava na creche da comunidade. A professora Aldenora Ferreira de Queiroz confirma o jeito calado do aluno. "É um menino bom, comportado, que mostra gosto pelo estudo e adora a música".
Marciano Pereira, nos últimos dias, faz bico para sustentar a família. Além de Lucas, tem mais quatro filhos. "Sentimos muitas dificuldades porque o dinheiro é pouco, mas sempre quero o bem do meu filho", disse o pai dedicado. "Seria bom que a escola de música popular já estivesse funcionando porque seria mais fácil para meu filho aprender a tocar sanfona". A família espera apoio para que o jovem instrumentista tenha orientação e acompanhamento de um professor especializado.
Sem medir esforços, Marciano Pereira comprou uma sanfona de 80 baixos para o filho, mas viu que o instrumento era grande para o seu tamanho e trocou-a por uma de 40 baixos, que é utilizada por Lucas da Silva até hoje. O repertório do menino já inclui forró, vaneirão e sertanejo. Sobre o futuro, não tem dúvida: "quero ser sanfoneiro". O jovem instrumentista é tímido e mal responde às perguntas do repórter e justifica: "A sanfona fala por mim".
Os pequenos e delicados dedos da mão esquerda mal encostam nos botões dos baixos. "Mesmo assim, ele faz sua apresentação e toca o tom direitinho", observa o músico e radialista Bêu Paulino. "É um talento nato e raro". Em casa, quando Lucas pega na sanfona, logo os amiguinhos se aproximam. A calçada da casa vai ficando cheia de curiosos. As pessoas de maior idade ficam admiradas com o esforço e o talento da criança e todas revelam uma expectativa positiva quanto ao futuro do menino tocador.
Mais informações
Antônio Baixinho
Rua Souza Alexandre, S/N
Vila Neuma
(88) 8815.4036
Diário do Nordeste/Honório Barbosa