No próximo fim de semana, 46 milhões de estudantes devem participar do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A logística para realização da prova – desde a elaboração dos itens até a aplicação dos testes – é quase uma operação de guerra. São 330 mil pessoas envolvidas nos 16 mil locais de prova em 1,8 mil municípios.
O homem por trás da edição de 2010 é Joaquim Soares Neto, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Ele assumiu o órgão em janeiro após a demissão do ex-presidente Reynaldo Fernandes. Seu principal desafio é garantir que essa edição do Enem transcorra com tranquilidade depois dos problemas do ano passado, quando um caderno de provas foi roubado de dentro da gráfica e o exame teve que ser adiado às vésperas de sua aplicação.
Em entrevista à Agência Brasil, Neto responde às principais dúvidas dos estudantes, recomenda que cheguem cedo aos locais de prova e garante que há “uma estrutura sólida de segurança” para que o problema de 2009 não se repita.
Agência Brasil: Qual é a principal mudança do Enem neste ano?
Joaquim Soares Neto: A mudança principal é que incluímos a prova de língua estrangeira. O estudante fez a opção [durante a inscrição] pelo inglês ou o espanhol e tem que tomar bastante cuidado na hora da prova. Isso porque o caderno vai trazer questões de inglês e espanhol, mas a folha de resposta vem com a língua estrangeira que ele escolheu. Portanto, ele tem que responder a prova referente à língua escolhida, não pode trocar na hora.
Agência Brasil: No ano passado, houve reclamações dos candidatos sobre o tamanho dos enunciados das questões, que eram muito longos e cansativos. Houve alguma mudança nesse aspecto?
Neto: A orientação foi para que os enunciados fossem compatíveis com o tempo da prova, mas sem perder uma característica do Enem que é a de medir competências. Portanto, a prova deve ser balanceada, os textos não devem ser longos demais, mas é importante que o exame consiga medir a compreensão do aluno.
ABr: O edital desta edição proíbe o candidato de usar relógio na hora da prova, o que causou reclamações. Como o estudante vai controlar o tempo?
Neto: Ele vai ser avisado pelo aplicador quando faltarem 30 minutos para o fim da prova. E o aplicador é orientado a portar relógio, então se o candidato se sentir desorientado em relação ao tempo pode perguntar ao aplicador. O importante é garantir a segurança e o sigilo da prova. Hoje há equipamentos sofisticados [de transmissão de dados] que podem ser colocados em relógios, e nós precisamos garantir que a prova seja segura. As medidas restritivas são muito importantes para que você garanta a segurança.
ABr: A segurança é uma das preocupações dos alunos, já que no passado houve o problema do roubo da prova. Que medidas foram tomadas para garantir a tranquilidade do processo em 2010?
Neto: Nós trabalhamos muito e em toda a estrutura do exame. Todas as secretarias de Segurança Pública dos estados estão envolvidas, além das três Forças Armadas e da Polícia Federal, que participou de forma consistente e planejada. Toda a impressão foi feita em uma gráfica de segurança máxima, com todos os cuidados necessários. E o processo de distribuição pelos Correios terá batedores acompanhando as provas quando elas forem transportadas por via terrestre. Também reforçamos a segurança da aplicação com mais fiscais nos locais de prova. Vejo tudo isso como uma estrutura bastante sólida para garantir o sigilo e a segurança do Enem. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance.
ABr: A cada ano cresce o número de instituições que utilizam a nota do Enem em seus processos seletivos, e a prova ganha novas funções. O trabalho de organização do exame também fica mais complexo?
Neto: O exame passou a ter um papel muito importante para o ensino médio e também para o ensino superior, então a logística tem que evoluir. Cada vez mais, trazemos método e tecnologia ao processo. O Inep está investindo intensamente em tecnologia de provas para atender a essa demanda e à expectativa da sociedade. O Enem passou a ter uma importância fundamental para a sociedade. Os estudantes que moram em regiões mais distantes não tinham acesso aos vestibulares por vários motivos – entre elas a distância ou questões econômicas. E agora a prova chega para todos. Isso traz uma discussão fundamental para o futuro do país, porque você está democratizando o acesso às vagas das universidades públicas.
ABr: O modelo de prova do Enem é diferente da maioria dos vestibulares. Que perfil de estudante o Enem busca selecionar?
Neto: Na sua proposta inicial, o Enem foca as competências e habilidades dos alunos. Hoje, o que a sociedade precisa é de pessoas com capacidade de desenvolver análises para que possam, dentro das condições dadas, tomar as decisões necessárias, se colocar perante um problema e resolvê-lo. É esse o tipo de cidadão que o país precisa e é essa pessoa que o Enem busca selecionar para as universidades.
Agência Brasil