sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ana da Galiléia e o Pastoril da Gameleira

Ana da Galiléia, coordena o Pastoril da Gamileira.
por Wandenberg Belém
O Pastoril integra o ciclo das festas natalinas do Nordeste, é um dos principais espetáculos nordestinos que celebra o nascimento de Jesus Cristo. Um folguedo popular dramático de origem européia, que sempre é apresentado entre o Natal e a Festa de Reis. Diversos personagens, entre as quais as pastoras, cantam e tocam maracá, entre outros como os três Reis Magos, elementos da natureza, anjos, borboletas e índios entram na trama. Essa tradição cultural é bem variada dependendo de cada Estado, cidade ou Região. Em Iguatu, no último dia 06 de janeiro, no Sítio Gameleira, como faz há19 anos, Ana da Galiléia Sarmento Serra, mais uma fez pôde agraciar sua comunidade com uma linda apresentação do Pastoril, representado pela dramatização da “Lapinha”. De origem religiosa, também é denominado Presépio. Como podemos comprovar é um espetáculo de encher os olhos, além do que é um verdadeiro resgate da cultura popular brasileira. Crianças, jovens e adultos celebrando o nascimento de Jesus. Dona Galiléia, pode se dizer que é um dos ícones da cultura local, nem os seus 73 anos de idade, faz com que ela aparente um cansaço. Está ali ativa organizando tudo, reclamando de uma pequena danação de umas das crianças, abraçando outra. Arrumando as vestimentas deles e assim vai, fazendo todos os preparativos para que tudo sair como o ensaiado diversas vezes durante o ano. Apesar da falta de incentivo financeiro tanto de ordem pública como privada. Nos últimos quatro anos, principalmente no início da gestão do prefeito Agenor Neto, seu trabalho que antes era desenvolvido no anonimato, ganhou uma maior divulgação. Já se apresentaram em praça pública, em eventos da igreja católica e recentemente no mês de dezembro, o grupo formado por 17 integrantes esteve se apresentando Fortaleza, capital cearense, no Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar. Para ela este foi um grande reconhecimento de todos esses anos dedicados a desenvolver a cultura brasileira. “Eu me envolvi com o Pastoril quando eu era professora, em 1992. Brinquei muito lapinha quando era criança, com minhas tias, minhas irmãs. Depois foi se acabando. Mas na década de 90 resolvi reativar”, relembrou citando momentos do início de sua vida com o envolvimento dessa cultura. “Ainda em 92 eu formei um grupo de dança na escola, por sinal se apresentando por duas vezes na TV Educativa, com Pau de Fitas, Dança do coco, peneirou xerém, maracatu, alecrim do campo e bumba-meu-boi. Essa apresentação foi justamente quando da segunda visita do Papa João Paulo II em Fortaleza. Depois fizemos na televisão a Coroação de Nossa Senhora. Daí fui me envolvendo cada vez mais, criando mais gosto e estou até hoje”, disse. Há pouco mais de três anos, as apresentações do pastoril ganharam um destaque maior no meio cultural, mesmo que de forma ainda tímida vale ressaltar a preocupação dos gestores da cultural com a divulgação e resgate dessa atividade. Durante a programação do Iguatu Natal de Luz, o grupo esteve se apresentando em praça pública, quando conseguiu arrancar o aplauso do público presente. “Foi na administração do prefeito Agenor Neto, quando ele foi fazer o primeiro Iguatu Festeiro que ele divulgou o grupo. Na época Helder Montenegro, que era secretário de cultura, se entusiasmou e nos entusiasmou ainda mais e continuamos o trabalho. Hoje já se apresentamos na Região, já estivemos na cidade do Crato, e agora em Fortaleza. Antes ficávamos só por aqui mesmo na Gameleira, nas comunidades vizinhas, nas escolas, igrejas. Lembro que uma vez se apresentamos na igreja quando dom Mauro ainda era bispo”, complementou falando da emoção de estarem se apresentando para um grande público no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Para Galiléia, todas as apresentações que já foram realizadas foram importantes, mas sempre que se apresentam na igreja, e agora essa participação em Fortaleza, foi um dos momentos mais marcantes para todos. “foi uma coisa muito especial, não pela minha pessoa, mas vejo pelas crianças, que na maioria são carentes, e não sabiam nem que rumo era Fortaleza. Fomos muito bem aceitos por todos, recebemos muitos aplausos, acho que durante toda a vida esse foi um dos pontos mais altos. Porque o sucesso não é meu, é das crianças, são eles que cantam e se apresentam”, completa. Viver de cultura no interior do Ceará, não é fácil, ainda mais sem nenhuma expectativa de apoio futuro, por isso assim muita tradições como o Pastoril pode acabar. E essa indagação é afirmada por ela, que ressalta que se ainda fosse mais jovem seria mais valorizada pelo trabalho exercido, porque teria mais entusiasmo de correr atrás de apoio e parceiros para o grupo. A falta de divulgação para atrair novos brincantes, apesar de escolas da rede do município já demonstrarem interesse em continuar a divulgação dessa arte, essa brincadeira corre o risco de acabar. Mas Galiléia diz que é preciso divulgar e incentivar a pratica do Pastoril dentro das escolas. “além da falta de estímulos dos brincantes, por seus diversos motivos. Se a secretaria de Cultura quisesse fazer uma divulgação mais ampla, eu acho que se tornaria mais fácil de conquistar espaço e a valorização para o grupo. Mesmo um pouco abafado, a nossa divulgação já se expandiu mais. O meu entusiasmo é simplesmente, unicamente alegrar, tornar feliz a criançada. Não os deixareles irem para uma vida mais devassa. E vejo que a gente fazendo isso, já vai tirando essas crianças de algo que é nocivo para elas”, finalizou Ana da Galiléia.

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