domingo, 2 de agosto de 2009

Brasil lembra 20 anos da morte de Luiz Gonzaga

Hoje, faz 20 anos que o consagrado Rei do Baião deixou o Nordeste mas sua herança musical persiste no País . Crato Vinte anos depois da morte de Luiz Gonzaga, o som de sua sanfona está cada vez mais presente nas salas de reboco das casas do sertão e nos mais diversos auditórios e palanques, enchendo de emoção e lirismo platéias de todas as categorias sociais. Em Exu (Pernambuco), sua terra natal, a programação comemorativa aos 20 anos da morte do Rei do Baião foi aberta, ontem, com uma "roda de sanfona", debaixo de um pé de juazeiro, no Parque Asa Branca. Em Juazeiro do Norte, sanfoneiros do Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha homenagearam o velho "Lua" com uma retreta de sanfonas em torno de seu busto, na Praça do Memorial. Com forma também de homenagem e resgate da memória de Gonzagão, o poder público quer tombar Parque Asa Branca como Patrimônio Imaterial. O forró pé-de-serra, introduzido no Brasil pelo Luiz Gonzaga na década de 40, conquista o mercado, concorrendo com outros ritmos brasileiros e estrangeiros. "O baião, coco, rojão, quadrilha, xaxado e xote caracterizam o forró e tem cheiro de carne de bode assada", comparou o velho Gonzagão, acrescentando que é uma música com a cara do Nordeste, que canta, ri, chora e "faz pouco" do seu secular sofrimento. Luiz do Nascimento Gonzaga nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, município de Exu, ao lado da casa onde morou a heroína cearense Bárbara de Alencar. Morreu no dia 2 de agosto de 1989, às 15h15, no Hospital Santa Joana, no Recife, onde estava internado há 42 dias. Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa de Pernambuco e enterrado na capela do Parque Asa Branca, em Exu, sua cidade natal. A escola gonzagueana está cada vez mais presente na vida das novas gerações, vindas das mais diversas categorias sociais. O vendedor de discos José Amilton Silva, proprietário da loja "Amilton Som", diz que Gonzagão continua sendo o maior vendedor de CDs do Cariri. "De vez em quando aparece uma novidade, um cantor novo que desponta no cenário artístico nacional, mas desaparece, enquanto a venda de discos de Gonzaga é constante", afirma. Amilton, que vende discos desde 1963, destaca que "Luiz Gonzaga interpretou o Nordeste em carne e osso, a poesia do povo, tradicional ou improvisada, transformada em canção, é um dos fenômenos mais ricos da cultura popular, pelo enfoque permanente de elementos históricos, tradicionais, emocionais e sociais". Ele foi o primeiro músico assumir a nordestinidade representada pela sanfona e pelo chapéu de couro. "Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz". Programação A influência de Luiz Gonzaga na música nordestina está no terreiro de sua casa, Exu. O número crescente de seguidores do rei, como eles se autodenominam, transforma Exu e cidades vizinhas na terra dos sanfoneiros. Este ano não houve necessidade de contratar sanfoneiros de fora para a festa dos 20 anos de morte de Gonzagão. "A gente juntou mais de 20 sanfoneiros que se revezam no Parque Asa Branca para dois dias de puro forró", diz a coordenadora do Parque Asa Branca, Clemilce Parente. A homenagem ao cantor foi aberta ontem com um grupo de sanfoneiros, liderados por Joquinha Gonzaga e Joãozinho do Exu e termina hoje, com a realização de uma missa de ação de graças. HERANÇA CULTURAL Herdeiros do "Rei" mantêm tradição musical Crato. O mais legítimo representante da arte de Luiz Gonzaga é o neto de Januário e sobrinho de Gonzagão, João Januário Maciel, conhecido por Joquinha Gonzaga que, apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, assimilou a cultura nordestina. Herdou do tio, Gonzagão, a mesma "puxada" de sanfona. "Essa puxada eu conheço, é a mesma de Januário", dizia Luiz Gonzaga, referindo-se ao sobrinho estimado. Luiz e Joquinha percorreram o Brasil cantando a música "Dá Licença P`rá Mais Um", em que o Rei do Baião apresentava seu substituto, cantando: "Se é de pai pra filho/ de filho para pai/ de sobrinho pra tio/ alguma coisa sai/ então vou por aí/por este mundo vou/ usando esta herança do meu tio e do vovô. Com residência na cidade de Exu (PE), Joquinha é um das mais requisitados sanfoneiros da região. Hoje, Joquinha Gonzaga é um dos grandes nomes do forró autêntico, com uma discografia de uma média de 15 LPs e CDs, com destaque para o CD Cantos e Causos, de Gonzagão, gravado em 2006, em que o artista fala de "causos" que presenciou nas viagens que fez com o tio Lula, canta músicas conhecidas de Gonzagão, de compositores conhecidos nacionais e regionais, e também de sua autoria. A escola gonzagueana está presente no meio universitário. Três acadêmicos do curso de Direito da Universidade Regional do Cariri (Urca), Marcos Eduardo, sanfoneiro; Robson Andrade, triângulo e voz, e Emerson Miranda, zabumba e voz, formaram o trio "Forró Direito" inspirados no Rei do Baião. O sanfoneiro Maurício Jorge, de Juazeiro do Norte, tinha apenas seis anos quando Gonzagão morreu. "Tenho um vaga lembrança do cortejo que passou em frente à minha casa com o corpo dele para ser enterrado em Exu", lembra. Com dois LPs gravados, Maurício cresceu ouvindo as músicas de Luiz. Hoje é um dos mais requisitados sanfoneiros da região, ao lado de Fábio Carneirinho. Mais informações Exu - Pernambuco Parque Asa Branca (87) 9626.4101 87) 3879 1216 ANTÔNIO VICELMO REPÓRTER
Diário do Nordeste

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