domingo, 30 de agosto de 2009

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional estuda história de bonequeiro igautuense

Iguatu. A arte de fabricação de bonecos e de apresentação do mamulengo ou Cassimiro Coco, no Nordeste está sendo pesquisada e registrada em depoimentos, fotos, vídeos e textos. O Projeto de Registro do Mamulengo como Patrimônio Cultural do Brasil é financiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a partir de uma sugestão da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB). A idéia é resgatar a atividade artística dos bonequeiros, contribuir para a sua preservação e formar um registro histórico sobre os artistas em atividade. A pesquisa começou em 2007 e está na fase final. Além do Ceará, há registros no Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. O trabalho está previsto para ser concluído no próximo mês de outubro. "O projeto reafirma a relevância dessa forma de brincar e contribui para que essa expressão cultural fique viva", disse a escritora e bonequeira Ângela Escudeiro, coordenadora do estudo no Ceará. Na edição de 27 de abril de 2007, o Diário do Nordeste, em reportagem publicada no Caderno Regional, tratou da pesquisa do Iphan, sob o título "Teatro de boneco será patrimônio cultural do País". A pesquisa de campo foi concluída neste fim de semana passado. Os artistas populares do mamulengo foram entrevistados sobre suas respectivas histórias de vida, realidade socioeconômica, estilo de apresentação e fabricação dos bonecos que manipulam. Pesquisas Após a sistematização dos dados, um dossiê de registro será apresentado ao Iphan, que decidirá sobre a classificação do teatro de bonecos popular como patrimônio cultural brasileiro. Além das expressões mamulengo e Cassimiro Coco, o teatro de bonecos é ainda conhecido por Babau e João Redondo. A pesquisa tem por base o livro "Cassimiro Coco de cada dia: botando boneco no Ceará", da bonequeira e diretora Ângela Escudeiro. A obra é fruto de um estudo anterior realizado em Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Itapipoca, Itapajé, Ocara, Trairi, Pindoretama, Aracati e Iguatu. A pesquisadora se mostra preocupada com a sobrevivência do teatro de bonecos popular, que depende de estudo, estímulo, proteção e visibilidade aos mestres que ainda existem. "Essa minha preocupação soma-se a de outros estudiosos do tema no Nordeste", observou Ângela Escudeiro. Brincantes do Ceará De acordo com levantamento realizado na primeira fase da pesquisa, constatou-se que no Ceará havia 71 brincantes, mas alguns faleceram ou deixaram de brincar. Os pesquisadores encontraram 13 artistas populares, que estão sendo entrevistados, fotografados e filmadas suas apresentações. Os artistas que tomaram parte da pesquisa são Antônio Wagner da Silva, da cidade de Ocara; Gilberto Bonequeiro, de Icapuí; Antônio Raimundo de Brito (Tony Bonequeiro), do Crato; Raimundo Ferreira Pereira (Bil) e Raimundo Nonato dos Santos, de Pindoretama; Francisco Furtado (Chico Bento), de Trairi; José Izaquiel Rodrigues (Seu Zai), de Iguatu; José Barbosa de Lima (Zedimar) de Aracati; João Cassimiro Barbosa, de Varjota; Potengi Guedes Filho (Babi Guedes), de Fortaleza; Antônio Vanderlei, de Banabuiú; Otacílio Primo de Oliveira, de Choró; e Manoel Senhor, de Pentecoste. A coordenadora da pesquisa no Ceará observa que há jovens brincantes que fazem uma releitura do mamulengo, mas sem consultar os mestres populares. Há também um movimento em que o boneco é utilizado como instrumento educativo. Em parceria com as prefeituras, os artistas fizeram apresentações comunitárias que foram filmadas e fotografadas. REDESCOBERTA Bonequeiro retoma o gosto pela arte do mamulengo Iguatu. A arte original do teatro de mamulengo ainda resiste nas mãos do agricultor aposentado e ator de teatro de bonecos, José Izaquiel Rodrigues, o "seu Zai", de 66 anos, morador do Sítio Cantinho da Barra I, na zona rural deste município. Sem saber ler, improvisa as narrativas cômicas e satíricas entre os diversos personagens que integram o seu acervo particular. Ele mesmo cria os bonecos, esculpidos em madeira, pintados e manipulados, dando vida à criatividade das histórias que fazem parte do imaginário popular e cultural do sertão nordestino. Nos últimos três anos, seu Zai suspendeu as apresentações. "Resolvi parar", disse. O motivo é evidente: a falta de apoio e estímulo. A apresentação para a pesquisa do Iphan aconteceu na Capela do Sítio Barra. Foram convidados alunos de 3 a 6 anos, da Escola de Ensino Fundamental José Honório Cavalcante, da mesma comunidade onde mora o artista. O altar serviu de palco, encoberto por uma tenda improvisada. As crianças ocuparam os bancos da igrejinha e revelaram alegria, surpresa e medo das estripulias dos bonecos. A coordenadora da escola, Francisca de Souza Neta, mostrou-se surpresa e admirada. "Não sabia que tínhamos um artista aqui na comunidade. É uma arte que precisa ser valorizada". Aos poucos, seu Zai foi tirando os bonecos da mala e erguendo-os sobre a tenda. Contava histórias e fazia o diálogo dos personagens, sempre com a participação das crianças. O principal boneco é Cassimiro Coco, tradicional, que está em todas as histórias, protagonizando situações diversas, com outros personagens: Maria Ciforosa, a namorada, Joana Preta de Caruaru, Soldado Setenta, padre, mãe, noiva, boi, cobra e até uma alma branca. Os bonecos parecem ganhar vida nas mãos do artista popular. Seu Zai veio morar em Iguatu em 1961. Trabalhou muitos anos na colheita de algodão, mas somente na década de 1970 resolveu puxar da memória as apresentações que via no Cariri. Esculpiu bonecos, criou personagens e fez várias apresentações na zona rural. "Muitas coisas mudaram, mas as crianças ainda gostam dessas historinhas, desse tipo de arte. É só começar a fazer que as crianças participam e se divertem", comenta o bonequeiro. Apesar do mundo tecnológico que rodeia as crianças de hoje, a cultura popular está viva no imaginário de cada um. Precisa apenas ser despertada. E é esse um dos objetivos da pesquisa do Iphan, em parceria com a Associação Brasileira de Teatro de Bonecos. SAIBA MAIS Premiação A atriz e pesquisadora Ângela Escudeiro foi premiada pela Funarte no programa "Interações Estéticas 2008, residência em Ponto de Cultura". Ela permanece em Santa Catarina nos próximos três meses. O projeto apresentado por ela e selecionado denomina-se "Cassimiro Coco do Ceará - abraçando o rio do Sul". Publicação Anteriormente, a atriz foi vencedora de prêmio da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) e o mais recente livro publicado, "Cassimiro Coco e a princesa de Jeri", integra uma coleção de livros infantis da Secretaria de Educação. Mais informações Teatro de Bonecos Popular como Patrimônio Cultural do Brasil Ângela Escudeiro (85) 8847.4377 HONÓRIO BARBOSA REPÓRTER

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