domingo, 20 de setembro de 2009

Aposentada iguatuense é destaque no Diário do Nordeste

Na fachada da casa número 56 defronte à Praça Coronel Belizário (hoje Airton Jucá), no Centro desta cidade, há um conjunto de azulejos que retrata o sofrimento de Nossa Senhora das Dores. A pintura denota como a dona do imóvel, a professora aposentada Maria Ivone Fernandes de Carvalho, de 89 anos, é religiosa. E para quem conhece um pouco mais da história da sua vida, sabe que se trata de uma artista autodidata que se mantém ativa. Há 20 anos, Ivone Carvalho pintou as cerâmicas que em conjunto formam o retrato de Maria Santíssima e estão fixadas na fachada principal da casa, virada para o nascente. A obra resiste ao tempo, mesmo incidindo sobre ela o sol inclemente de todas as manhãs do sertão nordestino. A pintura é fruto de uma técnica utilizada e aperfeiçoada pela artista após a aposentadoria, em 1983. A casa de Ivone Carvalho é um convite para um bom papo no entorno do jardim que, mesmo pequeno, reúne flores como dois irmãos, jasmim, rosas e um exemplar de sândalo, cujas folhas, ao serem espremidas, exalam cheiro agradável. Além do azulejo com a imagem de Nossa Senhora das Dores, que tem o coração exposto e ferido com sete flechadas, o imóvel tem na cozinha uma cena da ceia larga de Jesus com seus apóstolos, que também foi pintada em cerâmica. Há outros quadros de santos em óleo sobre tela nos diversos cômodos da casa. A casa é o endereço de Ivone Carvalho há 72 anos. Nascida em Iguatu, filha do casal Leonel de Carvalho e Euclides Fernandes de Carvalho, é a mais nova de uma família de 15 filhos. A mãe tinha fator RH negativo no sangue e todos os nove homens e duas mulheres morreram dias após o nascimento. Restaram quatro mulheres. Todas tiveram vida longeva. "Já estou chegando aos 90, ativa e com a cabeça boa", observa com leve sorriso e um brilho nos olhos. Ivone Carvalho pintou centenas de telas e cerâmicas. Florais, natureza morta, paisagem e santos. Especializou-se em imagens sacras. "O que gosto mesmo de pintar é santo", afirma. Nos últimos anos, reduziu o trabalho no ateliê. "Estou ativa, mas só pinto por encomenda", disse. "Infelizmente, Iguatu não tem mercado para pintura nenhuma", lamenta. A reduzida demanda por obras de artes é exemplificada numa comparação humorística pela artista plástica. "A gente faz um santo, mas o cliente pede outro. A gente oferece São José, pedem São Pedro. Agora só pinto por encomenda". Nos últimos meses, tem se dedicado ao crochê. "É serviço de velho". Um álbum com fotos mostra dezenas de telas pintadas e vendidas por Ivone Carvalho. As recordações fluem com facilidade. Vizinho à casa da artista, funcionava o Cine São José e do outro lado da praça, o Cine Alvorada. O largo era o ponto de encontro dos jovens e das famílias em décadas passadas. E ainda havia o cine-teatro José de Alencar. Hoje, um supermercado e um restaurante instalados próximos à casa atraíram dezenas de carros e motos que movimentaram a rua. "Não me incomodo com o barulho". À noite, após o jantar, a aposentada senta na calçada larga com as amigas, uma rotina quase obrigatória. Ivone Carvalho aprendeu as primeiras pinceladas com o comerciário Chico Jucá. "Minha mãe era habilidosa e aprendi muito com ela". Foi professora de vestuário e têxtil no antigo Grupo Escola Menezes Pimentel e, mais tarde, em 1962, assumiu a disciplina na então Escola de Economia Doméstica Elza Barreto, uma unidade de ensino federal. Autodidata, Ivone Carvalho aprendeu as técnicas da pintura e de corte e costura lendo livros e revistas que comprava em Fortaleza. Aos 52 anos, concluiu o antigo curso Normal, que iniciou no colégio São José, no Centro Educacional Ruy Barbosa. A aposentadoria veio em 1983. "Estava preparada, tinha comprado um forno para a pintura de cerâmicas e montado o ateliê em casa. Não podia ficar parada, por isso pintei muito". Ivone Carvalho ainda deu cursos sobre a técnica de pintura, fez exposição de quadros no salão do Sesc, mas não conseguiu realizar um sonho. "Queria ter uma escola pública, aberta para a comunidade, para ensinar aos jovens que têm talento para a pintura, mas não encontrei apoio", disse. "Há muitas pessoas que podiam desenvolver a arte da pintura, mas não têm oportunidade". Para homenagear o centenário de nascimento da mãe, Ivone Carvalho pintou em cerâmicas duas vias sacras que estão expostas nas igrejas de Senhora Sant´Ana e de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, nesta cidade. Solteira, abriu as portas de sua casa e acolheu 18 filhos alheios, que moraram e estudaram com apoio da artista humanista e religiosa, amiga das artes e dos necessitados que ainda por ali passam e pedem esmola. Mais informações Ivone Carvalho Praça Airton Jucá, 56 Fone: (88) 3581. 0305
Fonte: Diário do Nordeste/Honório Barbosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails
Share |