domingo, 22 de novembro de 2009

Entrevista: Evandro Leitão o presidente de primeira !

O homem que pegou o Ceará praticamente sucateado, sem patrimônio, sem credibilidade e o levou, 615 dias depois, a figurar entre as 20 maiores equipes do futebol pentacampeão do mundo, já projeta o clube para 2014.

Como você encontrou o Ceará quando chegou a Porangabuçu?

Sem crédito junto a ninguém e com uma péssima imagem no cenário esportivo nacional. Nenhum profissional queria vir trabalhar conosco. Aqueles que, a muito custo, aceitavam, faziam mil exigências. Foi preciso iniciar um processo de recuperação não só das dependências físicas da nossa sede, que estavam sucateadas, como também da imagem. A nossa energia chegou a ser cortada, o que representou uma verdadeira humilhação para quem ama onosso time.

Quem o trouxe para o Alvinegro?

Comandava, em 2006, um projeto na Lagoa Redonda para jovens de 13 a 18 anos. O primeiro contato foi com o Fernando Mota e o Joel Martins, do Projeto Ceará 2000. Depois, conheci o Dimas Filgueiras e o Mazinho Patrão. Eles gostaram do trabalho que estava sendo desenvolvido lá. Passei a ajudar as categorias de base do Ceará. Em 2007, fui convidado para assumir a diretoria administrativa e financeira do clube, ocasião em que me desliguei totalmente do projeto; no final do ano, fui eleito segundo vice-presidente. Por divergências com o ex-presidente Eugênio Rabelo, me afastei no dia 10 de janeiro. Com a renúncia dele, assumi o barco exatamente em 17 de março de 2008.


A que se deveu o fracasso, neste primeiro semestre, na Copa do Brasil e no Estadual?

O que aconteceu na Copa do Brasil, com a desclassificação no Castelão para o Central foi um acidente de percurso. Já no Cearense, todos reconhecem que tínhamos um time melhor. Perdemos por conta do “imponderável” que existe no futebol.

Por qual motivo a diretoria não investiu na reta final no time que fez um bom primeiro turno na Série B de 2008?

O nosso entendimento era de que, para conseguirmos o acesso, deveríamos ter formado o elenco bem antes, como ocorreu este ano. Com a desclassificação do Estadual, no entanto, as mudanças forammuitas e a nossa meta foi apenas de realizar uma campanha sem grandes sobressaltos. E isso aconteceu, já que, apesar de tudo, não entramos nenhuma vez na zona de rebaixamento da competição.


Qual a importância do conselheiro André Figueiredo, hoje,para o Ceará Sporting?

Total.O torcedor não imagina o que ele tem feito pelo nosso clube. O André Figueiredo nos ajuda de todas as formas. Não é apenas no aspecto financeiro. Ele tem nos dado uma estrutura física e psicológica. Se não fosse por sua intervenção, o PC não estaria hoje conosco. Só tenho que agradecer em nome de nossa galera todo o respaldo que esse importante conselheiro temnos dado.

Como se encontra o projeto de sócio torcedores e quantas adesões serão necessárias para manter o time na primeira divisão?
Temos hoje quase14 mil participantes, entre adimplentes e inadimplentes. Acredito que precisaremos dobrar essa marca ou pelo menos atingirmos 20 mil pagando em dia para bancarmos o nosso time na Série A. Chegamos à Primeira Divisão Nacional sem dúvida graças à nossa galera, em especial aos sócios-torcedores.

Quem traçou o caminho de Paulo César Gusmão até Porangabuçu?
Quando o Zé Teodoro pediu rescisão para ir para o Juventude, contactamos vários nomes, todos deprofissionais consagrados no futebol brasileiro, como Márcio Araújo, Vadão, Givanildo Oliveira e Paulo Bonamigo. Mas, quem acabou nos indicando o nome do PC foi o nosso capitão Geraldo. E o entendimento foi bem rápido. Com o tempo e o acesso, ficou provado que acertamos na escolha.O PC não é apenas o técnico. Ele se preocupa com tudo que diz respeito ao Ceará, como condições das instalações do nosso estádio, viagens, concentrações, enfim, coisas que outros profissionais do setor não se importavamdessa forma.

Com uma folha alta e tantos gastos, o torcedor fica a indagar se o clube não vai fechar o ano do acesso no vermelho.
Tenho quase certeza que não. De acordo com o nosso orçamento, no que diz respeito às contas atuais, englobando folha salarial de atletas e funcionários, gratificações, fornecedores e demais despesas, não teremos problema. É claro que me refiroaoquefoi assumido recentemente, na nossa gestão. No tocante às dívidas do passado, nda vão continuar por algum tempo, embora estejam, na medida do possível, sendo bem administradas.


O Ceará pode ser considerado hoje um time profissional, do ponto de vista administrativo?

Ainda não atingimos 100% da nossa meta nesse aspecto. Mas estamos no caminho certo. As perspectivas são muito boas . Praticamente dobramos o número de funcionários e a folha salarial. Isso foi preciso pois não tínhamos praticamente ninguém trabalhando aqui, já que o nosso patrimônio foi desprezado. Nosso Departamento Médico hoje conta com dez profissionais, inclusive fisiologista e odontólogo; o de Comunicação tem três e outros departamentos foram criados ao longo da nossa gestão.

Você teve algum tipo de problema como atual grupo de jogadores do Ceará?

De forma alguma. Por mais incrível que isso possa parecer, esse elenco não me causou nenhuma dor de cabeça. São não apenas jogadores altamente profissionais, mas homens acima de tudo, dentro e fora das quatro linhas.

Os ídolos Sérgio Alves e Adílson vão ficar em 2010 para mais uma temporada?
Agora que a Série B do Campeonato Brasileiro já foi definida, graças a Deus,comonosso acesso, vamos estudar com bastante carinho a situação individual de todos os nossos jogadores. Com o Sérgio e o Adílson não seria diferente, pois eles sempre se destacaram vestindo a camisa alvinegra e têm muitos serviços prestados dentro do clube ao longo dos últimos anos.

Quando você assumiu,tinha dito que não se candidataria a nenhum cargo público, mudou de idéia ultimamente?
Mudei, sim. Depois de ver pessoas que se dizem representantes do Ceará jamais terem feito nada por ele, repensei essa idéia. Certo mesmo nesse instante é que trabalharei com todo o empenho na campanha do André Figueiredo. Ao contrário de outras pessoas que se elegeram através do Ceará e nos deram as costas, André já era político quando se aproximou de Porangabuçu e,mesmonão tendo conseguido se reeleger na eleição passada, está ajudando a gente de forma incondicional. Da mesma forma, apoiarei quem estiver comprometido com a nossa instituição. Se entenderem que o meu nome preenche essa lacuna, serei candidato, sim. O que não vamos mais é apoiar quem pensa somente em auto-promoção.

No que diz respeito ao elenco para 2010, já existe algum tipo de negociação?
Temos cerca de 20 jogadores com contratos até o final de 2010 ou mais adiante. Vamos buscar no mercado aqueles que se destacaram nesta temporada. O objetivo é montar um elenco bem mais forte e experientedo que oatual.

Você pretende construir as arquibancadas do estádio Vovozão?
Imediatamente.Devemos começar esse ano a campanha para mobilizar os nossos torcedores nesse sentido. A idéia é dotarmos o Estádio Carlos de Alencar Pinto de 20 mil lugares. Inicialmente, vamos começar com um lance de cinco mil. Depois de concluído, partiremos para os três demais. Não tenho dúvida de que, se a torcida se engajar, vamosatingir a nossa meta.

Que história é essa de que a atual diretoria já está traçando metas para 2014?

Não é conversa mole. O nosso plano de ação atual vai até 2014 por um motivo bem simples: será oano do nosso centenário e da realização da Copa do Mundo no Brasil, com uma das subsedes em Fortaleza. É nosso intento levar uma seleção para treinar no nosso Centro de Treinamento de Pacajus, que começou a ser edificado mas estará pronto bem antes do Mundial. Até lá, o Vovozão também já estará concluído. Será o ápice do nosso clube. Nenhuma equipe nacional terá uma visibilidade tão grande no seu centenário como o Ceará Sporting. E tudo isso, é claro, passa pela manutenção do nosso time na primeira divisão nacional.



Sobre essa questão,o que fazer para não repetir o que fez o Fortaleza, que desceu no primeiro ano que subiu e, da segunda vez, se manteve só mais duas temporadas?

É aí que precisamos fazer o diferencial. Se não criarmos as verdadeiras condições para continuarmos na Série A, não conseguiremos nos sustentar, a exemplo do que ocorreu não só ao Fortaleza como a outros times. Por isso, desde que assumi venho trabalhando para dar estrutura ao Ceará. Hoje, já temos o mínimo necessário. Mas, precisamos de muito mais. A hora para fazermos isso é agora, pois em maio próximo, a luta na Primeira Divisão começa. Temos, porém, um trunfo bem importante, que é a nossa torcida. Além de ser imensa, ela é altamente apaixonada. Esteve ao nosso lado em todos os momentos, inclusive quando estivemos perto do descenso.


Até que ponto há sinceridade na sua declaração de que não queria que o Fortaleza fosse rebaixa do para a Série C?

É difícil para o nosso torcedor entender o meu posicionamento e eu compreendo sua posição. Durante muito tempo, fomos vítimas de chacotas por parte dos adversários, que comemoraram muito a nossa queda, que jamais aconteceu. Por isso há um sentimento muito forte de grande parte da nossa galera nesse sentido. Como dirigente, tenho que dizer que isso foi péssimo para o futebol cearense e nordestino, já tão discriminados no Brasil. Algumas pessoas acreditam que a perda do Campeonato Cearense acabou sendo benéfica para o Ceará Sporting, na medida em que o clube passou a apostar todas as suas fichas em 2009 no acesso à Primeira Divisão Nacional.

O que você pensa disso?

Posso garantir quea nossa política de contratações e de apoio ao nosso time não mudaria de forma alguma. O que foi feito já estava planejado. No entanto, fica difícil imaginar o que poderia ter acontecido caso nós tivéssemos conquistado o Estadual.


Fernando Maia

Repórter do Diário do Nordeste

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