As eleições de 2010 seriam dificílimas, quem quer que fosse o candidato da oposição. Uma conjunção de fatores "nunca antes" reunidos na História do país desequilibrava a balança, desde o primeiro momento, para a candidatura do governo.
Esses fatores são: democracia, moeda estável, controle da inflação, crescimento econômico e Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já tivemos democracia com hiperinflação e moeda fraca, democracia com estagnação e ausência de controle sobre gastos de governadores e prefeitos.
Já tivemos ditadura com crescimento, ditadura com hiperinflação e com estagnação.
Mas nunca esses fatores se juntaram num mesmo período. Como agora.
Assim, o ambiente sempre esteve favorável a uma candidatura governista.
Mas em 2010 acrescentamos ainda dois outros trunfos importantissimos para o governo:
1. o mais formidável cabo eleitoral de que se tem notícia. Um presidente em fim de (segundo!) mandato, navegando em 80% de popularidade, dono de inegável carisma a contato direto com as massas. Um presidente que não teve o menor escrúpulo em afrontar as leis do país, de debochar da opinião pública ("Nós somos a opinião pública", bradou ele em cima de um palanque), de usar despudoradamente a máquina do governo, de se aliar ao coronelismo mais deletério, mais perverso e obsoleto. Tudo para eleger sua candidata. E em primeiro turno.
2. uma máquina de fazer votos, que é o Bolsa-Família.
Pronto. Foi só contratar um marqueteiro muito competente e deixar que a campanha caminhasse, sem expor muito a candidata, que é cintura dura.
A campanha do governo foi extremamente bem feita, tanto no rádio quanto na TV. O slogan Para o Brasil seguir mudando é muito inteligente, porque se apropria da ideia da continuidade e da ideia de mudança, deixando pouco espaço para a oposição se apresentar como alternativa.
Não fossem os escândalos de corrupção na Casa Civil, envolvendo o braço direito de Dilma Rousseff.
Não fosse o presidente Lula perder as estribeiras e vociferar contra tudo e contra todos, criando atritos desnecessários com a imprensa, com a classe média e querendo "extirpar" da vida pública um partido político legalmente constituído.
Não fosse a prepotência e a arrogância de José Dirceu na Bahia, avisando que vai voltar poderoso e que o PT vai mandar no governo Dilma, talvez a eleição tivesse terminado no primeiro turno.
Isso porque o tempo todo a oposição contribuiu fortemente para que quase não houvesse campanha.
Oposição incompetente. Vamos combinar que temos uma das oposições mais incompetentes da história da República.
Derrotados em 2002, os tucanos ficaram acuados, envergonhados das conquistas dos oito anos de mandato de Fernando Henrique, vestiram a carapuça de "vendedores do patrimônio do povo brasileiro", não souberam honrar o legado que receberam, não souberam popularizar as conquistas do Plano Real, do telefone celular, da Bolsa-Escola.
Durante o escândalo do mensalão, não quiseram sujar os punhos de renda e esperaram que a imprensa fizesse o trabalho que era da oposição. Estavam certos de que a presidência da República lhes cairia no colo por gravidade.
Mas, ao contrário do que pensam certos áulicos do lulismo, a imprensa não é um partido político, e seu papel não é substituir a oposição.
Nem com a derrota de 2006 aprenderam a fazer oposição. Resultado, chegaram a 2010 como sempre: divididos, erráticos, sem projeto e sem proposta.
A campanha tucana é ruim, o slogan O Brasil pode mais precisa vir acompanhado de explicação.
A escolha do vice foi uma história de horrores, para terminar na solução mais inadequada que se pode imaginar. O vice escolhido não agregou um único voto.
Campanha paroquial. Serra e Dilma fizeram, no primeiro turno, uma campanha para prefeito. Era mutirão de catarata para cá, construção de casas populares para lá. Nada que um bom prefeito não possa propor.
Projeto para o país? Nenhum. Política de ciência e tecnologia articulada com universidades e empresas? Nada. Política industrial? Coisa nenhuma. Política externa? Ninguém sabe, ninguém viu.
Numa perversa manipulação da desinformação de boa parte do eleitorado, as duas campanhas alegam que "o povão não está interessado nessas coisas". Maldade. Perversidade. Exploração da ignorância alheia.
A decepção dos petistas por não terem liquidado a fatura no primeiro turno estava estampada nos rostos de Dilma e Michel Temer no próprio domingo. Pareciam nocauteados. "Onde foi que erramos?", pareciam se perguntar.
Agora é corrigir os erros e partir para o segundo turno. As duas campanhas vão se esmerar para conseguir os votos de Marina Silva, um considerável patrimônio de 20% do eleitorado.
Vamos acompanhar. E cobrar compromissos dos dois candidatos. Chega de demagogia barata.
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