Por José Roberto de Toledo
A eleição de Dilma Rousseff (PT) expressa o desejo do eleitor pela continuidade do atual governo. Com economia e consumo em alta, a maioria dos eleitores votou para não mudar. É também uma vitória rara na política brasileira: a de um projeto, e não a de uma pessoa física.
A nova presidente, ao contrário de seu antecessor, não é uma líder carismática com canal direto de comunicação com o eleitorado.
Apontada pessoalmente por Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo, foi eleita exclusivamente pela transfusão de votos do atual presidente.
O PT entrou de carona no processo. Embora tenha sido importante para consolidar suas chances eleitorais no início da campanha, o partido não participou do processo decisório sobre a candidatura de Dilma. Foi uma decisão solitária do presidente.
As pesquisas Ibope mostram que Lula conseguiu transformar 4 em cada 5 fãs de seu governo em eleitores de Dilma. São aqueles que avaliam a atual administração como “ótima”. Além disso, o presidente conseguiu transferir para sua candidata metade dos que acham seu governo “bom”.
O cruzamento das pesquisas de véspera e dos resultados da urna indica que cerca de um terço desses votos veio de beneficiados pelos programas assistenciais do governo federal, principalmente o Bolsa Família. Mas a maior parte de quem votou em Dilma não recebe nenhum tipo de bolsa ou auxílio.
Esses eleitores optaram por Dilma porque a economia, de modo geral, vai bem. É a expansão da renda, do emprego e, especialmente, do crédito que alavancou eleitoralmente a candidatura da petista em Estados onde o Bolsa Família importa menos, como no Rio de Janeiro.
Isso foi fundamental também para evitar que José Serra (PSDB) abrisse uma vantagem muito grande em São Paulo e no Sul do país. O tucano conseguiu 2 milhões de votos a mais do que a rival no maior colégio eleitoral do país, que ele governou até abril. Em compensação, Dilma abriu 10 milhões de votos no Nordeste, por exemplo.
O desejo de continuidade que elegeu Dilma foi responsável também pela eleição da maioria dos governadores, de oposição e da situação, que tentaram voltar ao cargo. Da mesma maneira, a taxa de reeleição dos deputados federais foi muito alta: 70%.
No final, o consumo e economia pesaram mais do que as questões morais e religiosas. Para ter governabildidade, Dilma precisará ser capaz de manter o bolso dos eleitores como estão: cheios.
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