
Os dados formam tabelas que não contam as histórias das vítimas. Mas apontam com muita clareza o perfil da maioria delas: do sexo masculino. Dos 1.013 assassinados no ano passado, 970 eram rapazes. Em Fortaleza, foram 590 vítimas nessa faixa etária em 2010, sendo 570 homens.
O crescimento de homicídios na Capital foi maior do que no Estado: 28,2% em comparação com 2009. Os jovens entre 18 e 24 anos foram as vítimas mais numerosas, mas na faixa etária dos 12 aos 17 anos elas cresceram em ritmo mais acelerado. Em um ano, entre 2009 e 2010, foram 33,8% mortes a mais de adolescentes do sexo masculino.
Não há respostas simples para explicar tantas mortes. “Você não pode vincular todo tipo de crime que envolva adolescentes e até adultos à questão do envolvimento com o tráfico de drogas”, alerta o titular da Delegacia de Homicídios, Rodrigues Júnior, sobre os lugares-comuns que tentam justificar os assassinatos. “No próprio local onde aconteceu o crime, pessoas desavisadas, principalmente os policiais, já esclarecem a causa da criminalidade, quando na verdade nenhuma investigação foi estabelecida. Dizer isso precipitadamente é uma irresponsabilidade”, frisa.
Apesar de reconhecer em muitos casos uma ligação evidente com o tráfico, o delegado não o aponta como “motor principal” dos assassinatos. Cita, no entanto, fatores sociais que conectam os jovens com a criminalidade e para os quais também não existem soluções simples. “A desestruturação ou desagregação familiar, a falta de oportunidade é outro fator, a falta de educação, de moradia, de trabalho. São políticas públicas que não são implementadas e conduzem forçosamente que os jovens trilhem pela criminalidade em suas diversas facetas”.
Pesquisa
Um estudo qualitativo dos assassinatos de meninos e rapazes na Região Metropolitana de Fortaleza começa a ser desenvolvido pelo professor e pesquisador Leonardo Sá, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Numa primeira análise, ele ressalta que a vinculação das mortes ao tráfico e consumo de drogas é muitas vezes uma fórmula utilizada para encobrir outras motivações para os crimes, como o tráfico de armas.
Para entender a violência que vitima os adolescentes e jovens, ele afirma ser preciso incluir na equação muitos contextos, como tráfico de drogas e de armas, exploração sexual, tráfico humano, assaltos, sequestros, queimas de arquivo e, principalmente, a resolução violenta de conflitos interpessoais. “No que as armas estão disponíveis, o circuito da vingança interpessoal passa a ser reforçado, potencializado”, acrescenta.
LEIA AMANHÃ
Embora tráfico e consumo de drogas não possam ser considerados causas isoladas dos assassinatos, as histórias de quem caminha pelo vício são marcadas pela violência.
Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
Adolescentes e jovens do sexo masculino são as principais vítimas de assassinato no Ceará. Em relação a 2010, representaram 95,7% do total de mortes por homicídio doloso, ou seja, com intenção de matar, no Estado.
NÚMEROS DA VIOLÊNCIA
Homicídios dolosos de pessoas dos 12 aos 24 anos no Ceará
2010 – 1.013 (970 do sexo masculino) (18,8% a mais)
2009 – 852 (818 do sexo masculino)
2008 – 743 (722 do sexo masculino)
Homicídios dolosos de pessoas dos 12 aos 24 anos em Fortaleza
2010 – 590 (570 do sexo masculino) (28,2% a mais)
2009 – 460 (447 do sexo masculino)
2008 – 366 (355 do sexo masculino)
Homicídios de pessoas do sexo masculino, por faixa etária, no Ceará
12 a 17 anos:
2010 – 253 (33,8% a mais)
2009 – 189
2008 – 159
18 a 24 anos:
2010 – 717 (13,9% a mais)
2009 – 629
2008 – 563
FONTE: SSPDS Via O POVO
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