A mais nova medida do Banco Central (BC) para evitar uma valorização ainda maior do real em relação ao dólar pode indicar uma alteração importante na condução da política econômica do País, diz a Gradual Corretora em relatório publicado nesta quinta-feira. No documento, o economista André Perfeito diz que essa mudança pode estar em curso, caso esteja se consolidando no governo uma leitura de que os juros não podem subir sob hipótese nenhuma, e que o instrumental de política monetária até hoje utilizado (a taxa básica, a Selic) deve ser substituído por outros de ordem quantitativa, em que se destacam o aumento do recolhimento compulsório e o aperto fiscal.
“Pelo visto, a política monetária ficou refém da política cambial”, afirma. Perfeito comenta ainda que, de um lado, vê-se o controle do câmbio, e de outro a utilização de instrumentos novos de política monetária. “O governo nunca vai admitir isso, mas é exatamente isso que ele está comunicando ao mercado”, diz. “Se o governo que alterar as principais variáveis econômicas, não vemos problemas nisso, só acreditamos que o fato deve ser comunicado de maneira mais clara à sociedade. Fazer o contrário só irá trazer ruídos desnecessários e criar volatilidade crescente”, continua.
Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, tem opinião diferente. Para ele, as medidas são inteligentes porque oferecem novo desenho de incentivos e pouco relevantes quanto ao movimento do câmbio na prática. "Continuo achando que não é ilegítimo governos se preocuparem com o câmbio, desde que não violem o regime de câmbio flutuante, que está intacto. Discordo dos que vêem uma sinalização ruim para o mercado de que o Bacen não quer deixar o câmbio ir para onde deve."
Segundo Barros, as medidas anunciadas hoje "têm caráter de imposição de um custo legítimo à arbitragem. Não acho que fizeram nada de violento e drástico. Muito pelo contrário. Essa medida não é uma violação ao regime de câmbio flutuante."
O economista Alberto Borges Matias, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP/USP), também tem a opinião de que a medida anunciada nesta quinta-feira mostra um uma clara mudança do perfil de política econômica no País". "É um novo momento", afirma. Na avaliação dele, a mudança é coerente com a situação do Brasil. “Temos uma economia real crescendo muito. Antes, com a força do sistema financeiro na economia, toda a discussão estava centrada na Selic. Mas agora há um grande crescimento real, tanto em commodities, como exportações e importações e na indústria, e isso vem gerando menos espaço para o setor financeiro. Estamos gerando bases para um crescimento com juros menores”, afirma Matias.
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